20 de fev. de 2018

Tudo na cabeça. Em defesa da memorização

Antes quando eu encontrava alguma informação de interesse, algo que precisava assimilar eu anotava no meu caderninho e achava que a missão estava cumprida. Agora ainda podemos anotar ideias, algum conceito, links, tudo de forma digital e depois com um sistema de pesquisa encontrar todas essas informações rapidamente.

Com Evernote, Google Keep ou qualquer outra ferramenta, guardamos tudo e depois o negócio vai parecendo uma bola de neve. Um emaranhado de notas que com o tempo vão ficando esquecidas e depois se transforma em uma espécie de banco de dados desatualizado, que com o tempo, pelo menos no meu caso, acho que a cada 10 anos (obviamente não é o ideal) vou lá limpar, filtrar e tal. O que me toma muito tempo.

Com horror descobri que boa parte dos links já não funcionam, algumas informações já não são relevantes, algumas coisas são basicamente de gosto realmente duvidoso, ou seja, ficam aí 1000 notas totalmente inúteis, ocupando espaço e causando um pesadelo. Claro que algumas das coisas continuam sendo úteis, mas até a gente voltar a vê-las no meio desse caos passa muito tempo.

Minha ideia agora é guardar tudo na cabeça. Parece absurdo, mas é um objetivo que claramente não consegui cumprir ainda. Mas pelo menos fica la ideia. Claro, que ainda acho que escrever e anotar as coisas seja imprescindível. No entanto, tenha a sensação de que a simples ideia de que a gente pode anotar tudo e que posteriormente vamos poder voltar a encontrar a informação que precisamos causa uma preguiça mental que em outro caso nos obrigaria a memorizar certas coisas. 

Acho que existem coisas muito importantes, coisas fundamentais que deveriam ser interiorizadas, que deveriam estar em nossa mente sempre. Cada indivíduo terá suas prioridades sobre essas informações importantes. Essas coisas podem ser variadas.

Tenho ainda minhas anotações online, mas agora a ideia é criar os chamados "commonplace books", ou seja, um conjunto de fichas com anotações importantes que podemos consultar e ao mesmo tempo estar constantemente vendo e assimilando o conteúdo para que finalmente possam ficar gravadas na nossa mente.

No mundo atual, muitas pessoas acham que a memorização não é importante, mas acho que, ao contrário, nunca foi tão importante. Memorizar alguma informação que preciso usar constantemente significa perder menos tempo procurando essa informação em outro lugar. Ao mesmo tempo, o cérebro conecta idéias e cria novas formas de pensar através de experiências e conteúdo de de alguma forma precisa estar anteriormente dentro da cabeça. As coisas precisam estar dentro da cabeça para serem lentamente marinadas, digeridas, de alguma forma assim acabam conectando-se também ao subconsciente. E acho que assim criamos ideias mais complexas, ideias únicas que foram criadas na nossa mente a partir de informações e experiências externas e internas.
Para criar internamente algo interessante e único é preciso passar por um trabalho, um processo que necessita energia, esforço. A memorização, a repetição, nos obrigar a colocar tudo na cabeça não é fácil e muitas vezes pode ser desagradável e frustrante. Mas acho que é uma forma de preparação mental, de melhorar nossas capacidades.

O que aconteceu que antes sabíamos de cor o telefone de várias pessoas e agora a gente já não sabe nem o número do nosso? Alguém pode dizer que saber isso já não é relevante já que o celular já guarda tudo. Esse é só um exemplo, mas isso significa que basicamente vamos depender da agenda do celular, do GPS, dependeremos de um aparelho e não teremos nenhuma dessas informações na cabeça?

Memorizar é exercitar o cérebro, saber chegar a um certo destino sem depender só do GPS é aproveitar nossa inteligência espacial, que estará conectada a outras capacidades. Nenhum conhecimento é isolado.

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